Enquanto isso, num mercado em Damasco o rei comprava de presente para Mavash um lindo vaso de cobre com arabescos em prata e cuja boca estava lacrada com uma tampa de ouro cravejada de minúsculos rubis que formavam uma palavra misteriosa. Antecipando sua volta, eis que o rei retorna na semana seguinte e adentra os aposentos da esposa com o belo vaso que havia comprado de presente.
Ao entrar no recinto ele se depara com a bela Mavash completamente nua dormindo lânguida nos braços de Najub. O rei é possuído de uma insuperável cólera, atira o vaso ao chão e vocifera: “Ai de você! Que Deus lhe amaldiçoe, pérfida senhora!”.
Para espanto geral, a tampa do vaso se solta e sobe uma fumaça negra que envolve todo o ambiente. A fumaça transforma-se num gênio imenso que diz: “Eu pertenço à raça dos gênios renegados. Rebelei-me contra o profeta de Deus que mandou trazer esse vaso e me trancafiou dentro dele, lacrando-o com ouro e selando-o com o mais poderoso nome de Deus escrito em rubis. A quem me resgatou após esses 500 anos de clausura… concedo três desejos!”.
O rei Morteza, enfurecido de ciúmes, diz para o gênio: “Que o amante de minha mulher, esse demônio negro, vire um eunuco!”. E imediatamente Najub fica castrado.
A essa altura, o vizir invejoso que tinha ido conferir o barraco que rolava, percebeu que ia sobrar para ele. Rapidamente dirigiu-se ao rei, beijou o chão diante dele três vezes e disse: “Ó rei excelso, meritório senhor, eu me criei em meio a suas dádivas e generosidade e não posso ser responsabilizado por tal iniqüidade. Em nome do criador, vencedor dos tiranos e aniquilador dos sassânidas, poupe-me pelo amor de Deus altíssimo e poderoso!”.
O rei ignorou as súplicas e disse para o gênio: “Que esse vil que colocou minha mulher nos braços de outro seja transformado numa mula e passe o resto da vida sendo açoitado pelos seus proprietários”. E, a despeito das lamúrias do vizir, o gênio falou: “Ouço e obedeço!” e imediatamente o invejoso transformou-se na besta.
O gênio então, antes de desaparecer, perguntou ao rei qual era o terceiro e último desejo. Apesar de irado, ele amava muitíssimo sua mulher e não teve coragem para pedir uma punição tão severa quanto as anteriores e então ordenou: “Que minha mulher não seja mais desejável para todos os homens.”
O gênio então pensou e… fez com que ela ganhasse 100 quilos. Logo em seguida o espírito maléfico evaporou-se numa nuvem de fumaça.
Os meses se passaram e o rei Morteza arrependeu-se do que fizera com a linda Mavash. A infeliz além de devorar tudo o que encontrava na despensa, passava o dia inteiro comendo tâmaras e cuspindo os caroços por todo lado para desespero dos servos. Entre uma boquinha e outra ela padecia gemendo e chorando as desditas da sua sorte.
O rei já estava incomodado com aquele trambolho desventurado no palácio e sentia saudades do tempo em que ela era sedutora e ornamentava o ambiente.
Numa das viagens, que agora eram ainda mais freqüentes e longas, ele soube que em Bagdá havia uma bruxa muito poderosa chamada Bua-Taranga. O rei decidiu buscá-la e rumou com sua comitiva para a cidade. Ao encontrá-la ele prometeu todas as riquezas, jóias e outras preciosidades caso ela desfizesse o trabalho do gênio.