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A HISTÓRIA DO GNOCCHI DA FORTUNA

Nos idos do século VIII d. C., numa cidade da Pérsia havia uma província governada por um rei chamado Morteza. O rei tinha uma jovem esposa que era bela, formosa, esbelta e esplêndida. Ele viajava constantemente por seus domínios e passava longos períodos fora do palácio deixando sua esposa, Mavash, sozinha e entediada.

Ao retornar de uma das viagens o rei constatou a melancolia de sua esposa que estava cada vez mais esquálida e ficou preocupado.

Quando amanheceu, o rei dirigiu-se à sala de audiências do palácio para receber os nobres, sábios e vizires e convocá-los para encontrar uma solução que divertisse sua Mavash. Havia entre eles um vizir influente que era agourento, invejoso e dissimulado e que logo se prontificou para arranjar entretenimento.

Na viagem que se sucedeu, o rei chamou o vizir invejoso para certificar-se que esposa ficaria feliz durante a ausência. O vizir puxa-saco falou: “Ó rei dos tempos, venturoso, virtuoso e sábio, viaje em paz que já tomei as providências para que sua esposa fique feliz durante sua ausência”.

O rei partiu com seu séquito confiando nas palavras do vizir.
Na noite que se seguiu, o vizir organizou um banquete com as mais finas iguarias, assados e incensos almiscarados. Chamou as mais belas dançarinas e os melhores acrobatas do reino. Entre os artistas havia um negro alto e forte chamado Najub cuja compleição física sarada destacava-se dos outros integrantes da trupe.
Durante as festividades o vizir percebeu que Mavash, em sua ávida juventude, não conseguiu tirar os olhos do apolo de ébano cujos músculos luziam untados em óleo enquanto ele apresentava seu número como domador de um Tigre do Cáspio. O tigre tinha uma pelagem de fundo branca e era um animal imponente e perigoso de uns 320 quilos. A fera obedecia docilmente aos comandos de Najub que trajava uma minúscula tanga que possibilitava entrever seus avantajados atributos.
O vizir viu no interesse de Mavash uma oportunidade para manipular o rei e arranjou para que Najub aparecesse nos aposentos da jovem naquela mesma noite.

 

 

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A HISTÓRIA DO GNOCCHI DA FORTUNA – PARTE II

Enquanto isso, num mercado em Damasco o rei comprava de presente para Mavash um lindo vaso de cobre com arabescos em prata e cuja boca estava lacrada com uma tampa de ouro cravejada de minúsculos rubis que formavam uma palavra misteriosa. Antecipando sua volta, eis que o rei retorna na semana seguinte e adentra os aposentos da esposa com o belo vaso que havia comprado de presente.

Ao entrar no recinto ele se depara com a bela Mavash completamente nua dormindo lânguida nos braços de Najub. O rei é possuído de uma insuperável cólera, atira o vaso ao chão e vocifera: “Ai de você! Que Deus lhe amaldiçoe, pérfida senhora!”.

Para espanto geral, a tampa do vaso se solta e sobe uma fumaça negra que envolve todo o ambiente. A fumaça transforma-se num gênio imenso que diz: “Eu pertenço à raça dos gênios renegados. Rebelei-me contra o profeta de Deus que mandou trazer esse vaso e me trancafiou dentro dele, lacrando-o com ouro e selando-o com o mais poderoso nome de Deus escrito em rubis. A quem me resgatou após esses 500 anos de clausura… concedo três desejos!”.

O rei Morteza, enfurecido de ciúmes, diz para o gênio: “Que o amante de minha mulher, esse demônio negro, vire um eunuco!”. E imediatamente Najub fica castrado.

A essa altura, o vizir invejoso que tinha ido conferir o barraco que rolava, percebeu que ia sobrar para ele. Rapidamente dirigiu-se ao rei, beijou o chão diante dele três vezes e disse: “Ó rei excelso, meritório senhor, eu me criei em meio a suas dádivas e generosidade e não posso ser responsabilizado por tal iniqüidade. Em nome do criador, vencedor dos tiranos e aniquilador dos sassânidas, poupe-me pelo amor de Deus altíssimo e poderoso!”.

O rei ignorou as súplicas e disse para o gênio: “Que esse vil que colocou minha mulher nos braços de outro seja transformado numa mula e passe o resto da vida sendo açoitado pelos seus proprietários”. E, a despeito das lamúrias do vizir, o gênio falou: “Ouço e obedeço!” e imediatamente o invejoso transformou-se na besta.

O gênio então, antes de desaparecer, perguntou ao rei qual era o terceiro e último desejo. Apesar de irado, ele amava muitíssimo sua mulher e não teve coragem para pedir uma punição tão severa quanto as anteriores e então ordenou: “Que minha mulher não seja mais desejável para todos os homens.”

O gênio então pensou e… fez com que ela ganhasse 100 quilos. Logo em seguida o espírito maléfico evaporou-se numa nuvem de fumaça.

Os meses se passaram e o rei Morteza arrependeu-se do que fizera com a linda Mavash. A infeliz além de devorar tudo o que encontrava na despensa, passava o dia inteiro comendo tâmaras e cuspindo os caroços por todo lado para desespero dos servos. Entre uma boquinha e outra ela padecia gemendo e chorando as desditas da sua sorte.

O rei já estava incomodado com aquele trambolho desventurado no palácio e sentia saudades do tempo em que ela era sedutora e ornamentava o ambiente.
Numa das viagens, que agora eram ainda mais freqüentes e longas, ele soube que em Bagdá havia uma bruxa muito poderosa chamada Bua-Taranga. O rei decidiu buscá-la e rumou com sua comitiva para a cidade. Ao encontrá-la ele prometeu todas as riquezas, jóias e outras preciosidades caso ela desfizesse o trabalho do gênio.

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A HISTÓRIA DO GNOCCHI DA FORTUNA – FINAL

Após um longo trajeto de volta, eles chegaram ao palácio justamente no dia 29 de Martius do Calendário Juliano.
O rei mandou chamar o trubufu e Bua-Taranga falou: “Ó rei venturoso e sensato, dono de correto parecer e louvável proceder, com a sua permissão eu livrarei sua esposa do feitiço maligno”.
Então a bruxa dirigiu-se à cozinha e mandou que levassem o enorme baú que ela trouxera com seus instrumentos de trabalho. De dentro dele tirou um saco com uns tubérculos estranhos e empoeirados que havia recebido de uma feiticeira Inca chamada Acsumama.

Bua-Taranga mandou que os criados pegassem aquelas papatas, como eram conhecidos os tubérculos na língua quíchua, cozinhassem e depois fizessem uma mistura com farinha. Quando a massa estava pronta, ela enrolou tal qual uma serpente.

Feito isso a feiticeira ordenou que se enchesse um caldeirão com água. Em seguida, diante do caldeirão, ela pronunciou algumas palavras e água ferveu e borbulhou como se estivesse sobre o fogo.
A feiticeira então sacou uma adaga de prata engastada com turquesas e cortou a serpente em pedacinhos atirando-os ao caldeirão.

Em seguida fez esconjuros e preces e falou para Mavash: ”Ó mulher, se esta for a forma que lhe deu o Altíssimo Poderoso Vitorioso, não mude; porém, se estiver enfeitiçada e atraiçoada, para cada porção que comeres desse alimento perderá peso e retomará sua forma com a permissão do criador do mundo!”.
 
E assim a esposa voltou a ser a bela sílfide de antes.

Quando você comer o gnocchi da fortuna do Café da Moda, coloque sob o prato um papel com o número de quilos que deseja perder, concentre-se no sabor e repita (intimamente, pliz): “Que Deus quebre esse encanto e destrua para sempre todas as células adiposas que não me pertencem!”.
Claro que você não vai perder tudo de uma vez mas a cada dia 29 pode repetir o ritual.

Afinal, convenhamos, nem é saudável perder muito peso de uma só vez!
 
 

 

 

 

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